sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Titiksa - A tolerância dos pares de opostos.

Todas as pessoas têm um grupo de ragas e dvesas - gostos e aversões - que constitui a personalidade. Posso gostar de bolo de chocolate e não gostar de jiló, e não há nada de errado nisso. Caso eu possa escolher, vou optar pelo bolo, e não pelo jiló. Contudo, caso não seja possível escolher o bolo e tenha que comer jiló, então o faço sem reagir. Esta tolerância é chamada titiksa, e se aplica a todos os pares de opostos, que caracterizam o universo como dual. As situações consideradas ideais para cada pessoa raramente são possíveis, e quando surgem são temporárias. Aceitar o universo como ele é, com toda a sua dualidade, é fruto de uma maturidade. O resultado é a capacidade de tolerância, titiksa, que caracteriza uma mente mais firme e tranquila, capaz de aceitar as coisas como são, ainda que sejam diferentes da minha preferência.
Patrick van Lammeren - trecho extraído do testo Samudra Manthana - A Bateção do Oceano,Cadernos do Yoga, Ano VII, número 27.

Granthis - Os três nós psíquicos do Yoga Parte II

O segundo Granthi é Vishnu Granthi, o nó que se localiza na região do Anahata Chakra (elemento Ar) que é o chakra da afetividade, dos sentimentos, do amor, da compaixão.
Vishnu é o aspecto divino relacionado com o Amor (Rama, Krishna, etc.), que transmuta a emoção em devoção (amor universal).
O Anahata chakra está relacionado à glândula timo e ao prana Prana (elemento Ar), que rege as funções pulmonar e cardíaca, e circula em fluxo ascendente (ao contrário de Apana), gerenciando tudo aquilo que é absorvido (em todos os sentidos).
Este segundo nó faz com que o homem selecione os objetos a serem amados (meus filhos, meus amigos, meus pais, minha casa, meu carro, etc.) e cria apego por estes objetos.
A religiosidade excessivamente emocionalizada também é uma característica dos obstáculos criados por este nó.
Vishnu Granthi pode ser desbloqueado por Iccha Shakti, o poder de desejar. Quando enredado por Maya (ilusão da separatividade), e sob o impulso da Guna Rajas, o homem cria desejos e necessidades segundo seus instintos e seus apegos. Quando o desejo se sutiliza o homem desenvolve mumukshutwam, o desejo pela liberação, pela consciência da Unidade.
Este Granthi também está relacionado aos anéis musculares diafragmático e toráxico da psicologia Reichiana.
Romper o Vishnu Granthi leva a uma interação afetiva desimpedida, abrindo caminho ao Amor Total que leva o homem a amar indistintamente toda a Criação, expressando plena e equilibradamente as suas emoções e dissolvendo suas couraças afetivas e relacionais.
Possibilita ainda que não se reprima nenhuma emoção vivenciada, ao contrário, que se perceba a emoção, que se sinta, se expresse e deixe que passe.
Bhakti Yoga (o Yoga da devoção e do amor universal) é o processo, no universo hindu, mais indicado para trabalhar este Granthi, e Prema (o amor universal) é o coroamento deste processo.
Ernani Fornari
www.ernanifornari.com.br

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Uma outra maneira de ver os chakras Parte II

Svadistana, Manipura e o prazer.
O segundo chakra é chamado de 'o fundamento de si próprio'. Este chakra está relacionado à sexualidade, o pai de todos os nossos desejos. Depois de termos resolvido a nossa busca por segurança, dizem os Vedas, é natural que busquemos prazer. Prazer por meio da sexualidade e da sensualidade. O 'fundamento de si próprio', nome dado a este chakra, indica-nos a consciência que o indivíduo tem de si mesmo, de sua individualidade. Antes do ego ser questionado, é necessário ser sedimentado. O indivíduo ainda encontra-se centrado no eu. Eu enquanto individualidade e personalidade. Mas enquanto grudado ao ego, o indivíduo buscará apenas a saciedade de seus desejos pessoais.

Na busca por saciar seus desejos, o indivíduo sai para o mundo. O desejo é o motor da ação e para a transformação do mundo à sua maneira. Tudo e todos são vistos como um meio para que o indivíduo obtenha segurança e prazer. Nasce dentro de si o desejo de controlar o mundo, pois as ações do indivíduo estão centradas no seu próprio umbigo ? local onde está localizado o manipura chakra. Por muito tempo a pessoa pode ficar presa no seu impulso de controle do mundo para obter a sua segurança e o seu prazer. Quando algo sai diferente do que planejado, a pessoa enraivece-se, pois não consegue se conformar com a idéia de não ter controle sobre o mundo externo. Para conseguir os seus dois objetivos, a pessoa muitas vezes esquece os valores e a ética, porque o que está em primeiro lugar é si mesmo, em lugar dos outros. Muitos podem permanecer nessa incessante busca por toda a vida. Então pode-se dizer que a pessoa ficou presa no manipura chakra, ou apenas que ela estacionou no seu desejo por segurança e prazer.

Se observarmos as latências mentais referentes a estes chakras em desequilíbrio: agressividade, violência, excessos, vergonha, autodestruição, obsessão sexual, domínio, solidão, egoísmo, vontade domínio sobre os demais, distorção da sexualidade, ambição, arrogância, raiva vemos que essas emoções são obstáculos para a libertação. E ao mesmo tempo valor, coragem, reações positivas ante os obstáculos, criatividade, vitalidade, domínio sobre as paixões, bem-estar, poder, consciência do eu, impulso pelo autoconhecimento, confiança, discernimento, são valores e qualidades muito parecidas com as citadas por Krishna na Gita e por Patanjali no Yoga Sutra como imprescindíveis para o autoconhecimento. (continua...)
Ricardo de Freitas e Tales Nunes
www.yoga.pro.br
27/05/2009

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Granthis - Os três nós psíquicos do Yoga

O Tantra é o mais antigo sistema de Conhecimento do universo indiano e o que mais profundamente explorou e instrumentalizou a utilização da energia vital no reequilíbrio psico/emocional/energético, e conseqüentemente, espiritual.
Um dos elementos interessantes desta fisiologia (e desta filosofia) é o conceito dos Granthis, os nós psico/emocionais/energéticos que estão posicionados ao longo da Sushumna Nadi (o conduto central de energia que localiza-se como contraparte sutil da coluna vertebral) .
A Sushumna nadi simboliza a consciência da Unidade (energia Kundalini) e os Granthis simbolizam, trazendo a analogia para o universo do Fogo Sagrado, os sistemas de corpos energéticos com seus núcleos de boicotes, limitações, sabotagens, apegos e falsas crenças e identificações, que devem ser transmutados e re-significados ao longo de nossa jornada para a consciência da Unidade.
Os Granthis são como que os obstáculos psico/emocionais/energéticos por que cada um deve passar ao longo da sua trajetória rumo ao autoconhecimento. Ao mesmo tempo expressam as defesas e bloqueios que construímos.
Os samskaras (impressões psico-emocionais, que vão gerar vasanas, que são as crenças, tendências e padrões) – outro nome para os Corpos Energéticos - vão, de acordo com sua “temática”, funcionar como manutencionadores dos Granthis.
É interessante procurar notar no trabalho de canalização de Corpos Energéticos, quais conteúdos estão relacionados com que Granthis ? Deonde se originam os padrões que estão sendo manifestados e expressos pelo canalizador?
O primeiro Granthi é o Brahma Granthi, que está localizado na região do Muladhara Chakra (elemento Terra). Brahma é o Senhor da Criação e o Muladhara Chakra é o chakra da criação material (reprodução), do pé no chão, da auto-preservação, da atuação no mundo físico, da saúde física. Diz-se que o Brahma Granthi é o nó do samsara, do mundo dos nomes e das formas.
O Muladhara chakra está relacionado às glândulas supra-renais (adrenalina!) e ao prana Apana (elemento Terra), que rege a função da eliminação e circula em fluxo descendente.
Este primeiro nó energético faz com que a interatividade do homem com os aspectos mais práticos da vida (trabalho, dinheiro, saúde) não flua com eficiência. O homem identifica-se com a criação, com seu ego, com seu corpo e com todo o grande jogo da Maya. Neste sentido, o Brahma Granthi fomenta o apego ao mundo e aos seus aspectos mais densos.
Brahma Granthi está relacionado com Kriya Shakti, o poder de agir, de atuar. Este poder de agir enquanto identificado com a energia ilusória da criação, amarra o homem ao plano denso da materialidade, ao nível mais tamásico (Guna Tamas).
Também está relacionado ao anéis musculares pélvico e abdominal, da psicologia Reichiana.
Romper o Brahma Granthi leva a agir-se como o ator, e não mais como o personagem, no interminável drama da vida.
E Hatha Yoga (o Yoga da saúde psicofísica) e Karma Yoga (o Yoga do desapego) são os caminhos indicados para este nível, e seu desbloqueio desidentifica o homem do seu egocentrismo.
Superar o Brahma Granthi significa usar positiva e equilibradamente a determinação, a objetividade, a coragem, o cuidado com a saúde e a beleza do corpo, a prosperidade material, a paternidade.
E o deus hindu Ganesha está relacionado a este Granthi, na medida em que o deus com cabeça de elefante simboliza nosso próprio poder de abrir nossos caminhos, vencer nosso medos, superar nossos obstáculos e crescer. (continua...)

Ernani Fornari
Dharmendra
www.ernanifornari.com.br

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Uma outra maneira de ver os chakras

Sempre ouvimos que os chakras deveriam ser visualizados ou sentidos. Como não conseguimos vê-los ou senti-los em toda a complexidade que é apresentada pelo Tantra, propomos interpretá-los de uma maneira diferente. Sugerimos, neste artigo, apenas pensarmos sobre os chakras. Acreditamos que o caminho à iluminação proposto pela prática tântrica pode ser pensada como uma simbologia da nossa própria trajetória de vida e da nossa busca pessoal pela espiritualidade, ou melhor, pela liberação. De acordo com o Vedanta, independentemente de etnia, nacionalidade ou crença, são quatro as buscas dos seres humanos: artha (segurança), kama (prazer), dharma (o correto agir) e moksha (a liberdade).

Muladhara e a segurança
A primeira preocupação do ser humano é com a sua segurança. Todas as nossas ações básicas têm como objetivo nos trazer a preservação da vida. O primeiro chakra, muladhara, é dito ser responsável pelo instinto de sobrevivência, pelo apego às coisas materiais e pelo medo. Ou seja, podemos entender o primeiro chakra e os 'bloqueios' relacionados a ele como esse nosso anseio natural por segurança. Dentro do caminho em busca da liberdade é necessário trabalhar as emoções e sentimentos relacionados e esse primeiro chakra.

É dito que as tendências do muladhara chakra em desequilíbrio seriam a inércia, posse, medo, apego, rigidez, cobiça, avidez, bloqueio na comunicação, tendência de ser manipulado, credulidade, dificuldade em dar e receber, possessividade. Algumas destas tendências são citadas por Patanjali como obstáculos para permanecermos na nossa verdadeira natureza. Da mesma forma, se observarmos as qualidades ditas sobre esse mesmo chakra quando ele esta equilibrado: sobrevivência, solidez, autoconfiança, materialidade, boa comunicação, relação sadia com a matéria, capacidade de transcender limites, discernimento, estas são citadas em vários textos, inclusive no Yoga sutra, como as qualidades sugeridas para o aspirante a moksha. (continua...)


Ricardo Freitas e Tales Nunes.
www.yoga.pro.br - 27/05/2009

O amor é a mente que está consigo mesma.

"(...), a sua raiva é devido à falta de acomodação, pois você espera que todo mundo se comporte conforme as suas expectativas. Para que se possa desenvolver um valor pela acomodação das pessoas, um fato precisa ser claramente compreendido: a outra pessoa age de uma forma específica porque é incapaz de agir de outra forma. "Ele poderia ter feito melhor", você diz. Se ele pudesse, ele então teria feito. Que direito você tem de exigir que a outra pessoa aja conforme as suas expectativas? Ela não teria então o mesmo direito de esperar de você outra maneira de ser?
Afinal, se você mudasse, ela não precisaria mudar. Se você tem o direito de esperar uma mudança da outra pessoa, ela tem também o mesmo direito de esperar que você deixe-a viver como ela é. Na verdade, apenas acomodando as outras pessoas, apenas permitindo-lhes que sejam como são, você poderá obter uma relativa liberdade na sua vida diária. (...)
(...) Não importa o quanto de Vedanta você venha a estudar. A menos que você acomode plenamente as outras pessoas, não funcionará com você. Você terá apenas um sentimento de que existe algo oculto, ainda por ser descoberto. Você desejará mudar os outros para poder ser livre, só que isto nunca funcionará. Aceite as outras pessoas totalmente e você então será livre. Só então você descobrirá o amor que é você mesmo."
trechos extraídos de um seminário intitulado "Sobre amor" com Swami Dayananda em Toronto, 27/07/1985.
Cadernos de Yoga, Ano VII, número 27 - Inverno 2010.