Fui à minha primeira aula de Yoga porque já
tinha lido que Yoga não era só uma prática física, os ásanas, mas também
uma filosofia de vida, uma busca espiritual. É claro que, como a maioria dos
novatos, a minha preocupação nas primeiras aulas foi tentar seguir as
instruções do professor, completamente focada no externo, o que me fez esquecer
do motivo que me levou à prática.
Além do
mais, a minha concentração nas instruções (o que não é o meu forte) teve que
ser ainda maior, porque a aula estava sendo ministrada em inglês. Como tenho
uma flexibilidade razoável, depois de algumas aulas já estava fazendo algumas
poses com tranqüilidade, mas é claro que sem nenhuma preocupação com a respiração
ou com a consciência de que essa prática poderia ser um caminho para a minha
busca interior. Não vou culpar o professor, porque, provavelmente, ele deve ter
pedido muitas vezes para que respirássemos, deve ter feito comentários sobre
estar presente, mas eu, completamente absorvida na tentativa de segurar a minha
mão no maricyasana
b (postura
de torção) como a colega do tapetinho ao lado estava fazendo, não ouvia nada.
Rapidamente, eu tratei de achar um professor que
correspondesse às minhas expectativas, ou seja, que alimentasse o meu ego
dizendo que eu conseguiria pôr o meu pé atrás da cabeça, embora eu segurasse a
minha respiração como se estivesse treinando mergulho. Mais tarde, vim a saber
que o instrutor só tinha dois anos de prática. Como ele também conseguiu pôr o
pé atrás da cabeça rapidamente, acreditou que estava pronto para ensinar. As
aulas dele, apesar das velas, das músicas, do suor, eram muito mais aulas de
ginástica do que de Yoga. Mas o meu ponto aqui não é criticar o meu ex-instrutor.
Acho que ele estava na própria busca pessoal no mundo do Yoga.
Porém, considero que o meu real encontro com o
Yoga, depois de passar por diferentes tipos de aulas, foi quando encontrei um
professor de Astanga (não vem ao caso o estilo) que me fez parar em samasthitih (postura da montanha,
em pé) e respirar. No início, o meu corpo pedia pelo movimento, pelo esforço,
mas aos poucos se aquietou, percebendo que saudação ao sol (surya namaskara) era um verdadeiro
ritual de integração do ser com o universo e que tinha que ser feito a partir
de dentro, do coração. Daquele momento em diante os meus colegas de classe, que
antes eram tão visíveis, tão presentes, desapareceram, e o que me importava era
a minha própria prática, a minha experiência com o Yoga. Cada ásana passou a representar um encontro com o meu corpo e a minha alma. E por
incrível que pareça, posturas que eu conseguia fazer, logo que comecei a
praticar, há quase dois anos, eu não faço hoje. Não faço porque não estou
pronta, porque não pratico diariamente, porque ouço o meu corpo e ele não está
preparado. E o meu professor sabe disso. Estou tentando praticar aparigraha em relação a minha
prática, ou seja, não ficar apegada ao progresso, mas deixá-lo vir
espontaneamente. Nem sempre isso é fácil.
Hoje, escuto o que o professor fala, as
reflexões que faz enquanto ensina. Sigo as instruções para tentar estar
presente, ficar como testemunha, respirar cada ásana. Entendi quando ele disse que eu preciso
praticar os nyamas (código de ética), que
as posturas são apenas uma parte do Yoga, um instrumento. Passei a buscar
bibliografias, sites na internet.
Mas com essa consciência comecei, também, a
observar melhor os meus professores, passei a procurar um mestre. Ás vezes, vou
a aulas diferentes. Percebi a seriedade de ser um professor e vi que criei
expectativas e que as opiniões deles passaram a ser muito importantes. Algumas
aulas que eu experimentei e não voltei foram porque o professor ou professora
não falaram para o meu coração. Percebi que, hoje, já não me interessa se o
professor consegue fazer todos os movimentos avançados. É claro que é lindo ver
um ásana
bem feito.
Mas, o importante para mim, como aluna, é que eles demonstrem viver o caminho
do Yoga nas próprias vidas. Como citou a professora Camila Reitz: “para ser um
guia espiritual que mostra o caminho para o auto-conhecimento, é necessário ter
andado por este caminho”. Porém, humildemente, ela diz que seria melhor ser
chamada de instrutora, “porque conhece e necessita de companhia para
caminhá-lo”. Mas ela tem 15 anos de prática!
Bem, talvez, como aluna, eu precisei diminuir as
minhas expectativas e os meus julgamentos. Como diz o ditado: “o mestre aparece
quando o aluno está pronto”.
Karlla
Rizzon mora nos EUA, é jornalista e estudante de Yoga.
karalarizzon@
yahoo.com.br